O técnico Roger Machado, do Internacional, tornou-se alvo de ofensas racistas nas redes sociais depois da eliminação da equipe gaúcha nas oitavas de final da Copa Libertadores. Na quarta-feira, 20 de agosto, o Colorado perdeu por 2 a 0 para o Flamengo e deu adeus ao torneio, resultado que motivou comentários preconceituosos no X (antigo Twitter).
Entre as mensagens publicadas, um usuário escreveu: “Tendo o macaco do Roger como treinador não é de se esperar menos”. A publicação repercutiu e levou especialistas a cobrarem providências legais e esportivas.
Crime imprescritível
A advogada Alessandra Ambrogi, especialista em direitos humanos, lembra que a Lei nº 14.532/23 equiparou a injúria racial ao crime de racismo, prevendo pena de até cinco anos de reclusão e multa, além de tornar o delito inafiançável e imprescritível. “Esses torcedores podem ser identificados e responder criminalmente”, destacou.
Consequências no esporte
No âmbito esportivo, a Lei Geral do Esporte (nº 14.597/23) e o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) estabelecem punições que vão de proibição de acesso aos estádios à perda de mando de campo e multas; em casos extremos, clubes podem ser excluídos de competições.
Segundo Alessandra, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e as entidades internacionais têm instrumentos para agir. A Fifa, frisou ela, adota política de tolerância zero ao racismo e permite sanções como partidas com portões fechados, perda de pontos e exclusão de torneios quando houver omissão dos responsáveis.
Racismo também na Europa
Os ataques a Roger ocorrem em meio a episódios semelhantes no futebol europeu. Na Inglaterra, a zagueira da seleção Jess Carter recebeu insultos raciais online após a vitória por 3 a 2 sobre a Suécia nas quartas de final da Eurocopa 2025 e decidiu se afastar das redes. Um torcedor do Liverpool foi banido dos estádios por ofender o atacante ganês Antoine Semenyo, do Bournemouth, na estreia da Premier League 2025/26.

Imagem: uol.com.br
Na Alemanha, a primeira rodada da Copa nacional registrou cânticos racistas nos jogos Leipzig x Schalke 04 e Stahnsdorf x Kaiserslautern, levando a federação local a abrir investigações. O presidente da Fifa, Gianni Infantino, classificou os incidentes como “inaceitáveis” e cobrou ação das autoridades.
Pressão por mudanças
Marcelo Carvalho, diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, afirmou que a recorrência dos casos mostra como atletas e treinadores negros são julgados de forma mais severa. “O futebol atravessa todas as barreiras sociais; por isso, é fundamental usá-lo para promover práticas antirracistas que sirvam de exemplo”, disse.
Até o momento, o Internacional não confirmou se tomará medidas jurídicas contra os autores das ofensas, mas o clube e o treinador receberam manifestações de apoio de torcedores e entidades.
Com informações de UOL